Histórias de Personagem #2 - Jeremy Rainier


“Jeremy Aloise Rainier nem sempre foi o carrancudo de poucas palavras que é hoje. Como um típico parisiense, ele foi criado com a educação cortês e sua facilidade em se adequar a eventos sociais, apesar de nunca ter encontrado uma real justificativa...
“Jeremy Aloise Rainier nem sempre foi o carrancudo de poucas palavras que é hoje. Como um típico parisiense, ele foi criado com a educação cortês e sua facilidade em se adequar a eventos sociais, apesar de nunca ter encontrado uma real justificativa para isso. Filho de uma integrante da família Amorielli e de um francês com descendências latinas, Jeremy se descontentou com a mudança súbita para a Itália. Algo em seu interior o dizia que os próximos anos seriam difíceis. 
Com a esperança de se misturar na nova escola, não tardou a procurar amigos. Seu sotaque, porém, foi motivo de risos. E Jeremy não sabia lidar com o bullying. Sempre educado demais para rebater os comentários maldosos e inseguro o suficiente para não arrumar briga, ele permitiu que o inferno durasse por muito tempo. Mas não durou. Em um dos encontros infelizes diários, no corredor de sua aula de música, ele encontrou uma garota alta, de olhos muitos azuis, incitando-o a reagir. Ele, desnorteado demais, não conseguiu. Então, ela mesmo o fez. Ele enxergou aquele furacão em forma de menina se colocar entre ele e os opressores, erguer os braços e afugentá-los com a promessa de uma surra. Algo lhe dizia que a forma como eles o deixaram em paz pelo resto do dia representava bem o fato dela ser boa de briga. 
Jeremy pensou que seria vergonhoso ser protegido por uma mulher. Mas não havia machismo dentro de si. Sempre acreditara que as mulheres eram mais fortes e inteligentes, mesmo. Catarina era o nome dela. E ele se apaixonou por aquele nome. Por aquele ser ríspido, de língua afiada, manias engraçadas e espírito aventureiro. Até mesmo pelo cheiro de seu cabelo úmido de suor após as partidas de futebol. E, felizmente, ela retribuiu o seu amor. Dois longos anos depois. 
Tarde demais, Jeremy pensa hoje. 
Porque aquela história de amor que tudo tinha para ser bonita e feliz acabou num piscar de olhos. Catarina morrera alguns meses depois de seu namoro escondido. E ele sabia quem a matara. Ele sabia o que acontecia a ela. Catarina o contara de sua vida para ele antes. 
E, desde então, Jeremy não encontrou mais razões para sorrir. Um pouco ácido e ligeiramente mal humorado, prefere o silêncio do que as palavras. Traçou um futuro sombrio para si e dessa vez Catarina não estava ali para protegê-lo. Ele a protegeria, embora tarde demais. Jurou se vingar. 
E morreria por isso.”

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