Histórias de Personagem #1 - Catarina

“Catarina Maria Valachi era uma garota peculiar. Trocou uma boneca de porcelana por um exemplar de ‘O Manifesto Comunista’ em seu Ensino Fundamental, ignorando o fato da boneca ser item de colecionador presenteado a ela por um dos colegas de seu pai....
“Catarina Maria Valachi era uma garota peculiar. Trocou uma boneca de porcelana por um exemplar de ‘O Manifesto Comunista’ em seu Ensino Fundamental, ignorando o fato da boneca ser item de colecionador presenteado a ela por um dos colegas de seu pai. É claro que ela, naquela idade tenra, infelizmente já sabia que com o presente o homem desejava outras coisas, mas a garota não deixou transparecer sua raiva e receio no momento. Apenas trocou a boneca e fim. 
Catarina era líder de sua turma aos 13 anos de idade, se inscrevia em todas as atividades escolares e sempre se sobressaia nelas. Gostava do conforto de ficar longe de casa o mais tempo possível. A única coisa que a fazia retornar era, definitivamente, seu irmão. 
Mas não foi isso que a tornou peculiar. 
Catarina tinha o apetite de um animal selvagem. Foi, por muito tempo, gordinha. Até conhecer o futebol e se apaixonar drasticamente com a arte de chutar uma bola e acertar, acidentalmente, na cabeça de muitos garotos que a repreendiam por gostar do esporte. Ela recitava Noam Chomsky com fluidez, assim como incitava propaganda comunista em pleno solo de fascistas disfarçados. 
Seu único amor era Dave Grohl e o fato de transformar seu irmão em um ouvinte de Foo Fighters a orgulhava. 
Enchia a pizza de ketchup, ignorando o costume italiano de não fazê-lo. Se envolvia em discussões, porque se manter calada era a única coisa que ela não sabia fazer. Xingava palavras de baixo calão e as usava como vírgulas muitas das vezes. Seus grandes olhos azuis assustavam mais do que encantavam. Sua aparência sempre levemente masculina e rústica não diminuíam sua beleza, entretanto. E foi em uma dessas discussões à respeito de seu gênero que ela conheceu Jeremy Rainier, o francês recém chegado de Paris e que não sabia se proteger do bullying causado por seu sotaque. E Catarina o protegeu. Por três meses. 
E então, quando após dois longos anos de negação, ela admitiu que gostava dele. Ele, naquela altura, já a olhava e suspirava sem perceber. 
Catarina era uma garota peculiar aos olhos de todos. 
Aos olhos de Jeremy, era a imagem da mais bela forma de amor possível.”

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